Delegacias do Norte de Minas funcionam à base de improviso
À vista. Sem local apropriado para armazenamento, armas apreendidas com criminosos ficam encostadas na parede da delegacia LEO FONTES |
Montes Claros. Celas sem iluminação, com água pelo chão, exalando forte cheiro de urina e mofo. Carteiras de identidade batidas em máquinas de escrever. Gambiarras elétricas. Documentos e drogas guardados em armários improvisados e em caixas de papelão.
Espingardas que servem como provas de crimes encostadas em paredes. Computadores estragados, impressoras sem cartucho, delegacias sem policiais.
Em pleno século XXI, essa é a situação de delegacias do Norte de Minas. Unidades de Montes Claros e Mirabela são um exemplo da situação caótica vivida por investigadores da Polícia Civil. Em vez de contar com tecnologia e métodos científicos modernos, eles são obrigados a improvisar para desvendar crimes.
Nas ruas, a população reclama. "Há alguns meses, perdi meus documentos e tentei fazer um Boletim de Ocorrência (BO). Mas o delegado mandou eu procurar a Polícia Militar porque ele não tinha funcionários. Se não tem gente para fazer um simples BO, quem está investigando os crimes da cidade?", questiona o autônomo Jefferson Oliveira, 23.
Um comerciante que teve seu estabelecimento assaltado quatro vezes de outubro de 2010 a maio deste ano passou pela mesma situação que Oliveira, apesar de a loja dele ficar próximo a uma delegacia, no centro de Montes Claros. "Prefiro o anonimato porque estou inseguro. Já tive que ir a várias delegacias para registrar um boletim de ocorrência, mas não consigo. Disseram que não têm funcionários. Não tive nenhum retorno sobre os roubos que sofri".
Nas delegacias, até os policiais se sentem inseguros. Com medo de represálias, só concedem entrevista sob a condição de anonimato. "Existem 255 policiais civis em Montes Claros. Pelo menos 55 não têm armas. Entre eles, estou eu. Como investigar crimes que envolvem homicídio e assaltos nessas condições?", desabafa um agente.
Segundo o diretor Regional Norte do Sindicato dos Servidores da Polícia do Estado de Minas Gerais (Sindipol), Emerson Mota Rocha, o ideal seria que o número de policiais civis locais dobrasse. "A situação daqui reflete o que acontece em todo o Estado".
Policiais usam pedaço de madeira como tranca
Nada de câmeras de vigilância ou dispositivos de segurança. Os policiais militares e civis da 98ª Área de Integrada de Segurança Pública (Aisp) contam com uma maneira nada eficaz para fechar a principal porta de acesso ao prédio: uma tranca feita com um pedaço de madeira.
"É um absurdo. Apesar de termos poucos computadores, trata-se de um órgão público, que presta serviços e guarda documentos muito importantes para a população", reclama um policial.
Improviso. No local onde um dia abrigou mesas e cadeiras de um restaurante, hoje funciona o escritório da delegacia de Mirabela; máquina de datilografar ainda é usada para coletar dados de quem precisa tirar carteira de identidade LEO FONTES |
Descaso. Veículos estão abandonados no pátio da antiga delegacia; plantas brotam de dentro dos carros, que estão enferrujados e ainda são alvo de vandalismo LEO FONTES |
Porão. Sala de acolhimento na delegacia de plantão de Montes Claros, onde ficam pessoas envolvidas em delitos, parece uma masmorra; falta luz e sobra mau cheiro LEO FONTES |
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