QUEM CUIDA DA MENTE DO POLICIAL?
A
famosa citação do poeta romano Juvenal “Mens sana in corpore sano” (uma
mente sã num corpo são), tem dado margem a uma série de interpretações,
vulgarizadas, inclusive, pelo seu uso repetido. O entendimento mais
comum é o de que devemos viver de tal forma que haja um equilíbrio entre
a mente e o corpo, caso contrário, as mazelas que esta sofrer, serão
expressas através de doenças psicossomáticas às mais variadas. (...)
O fato de ser policial,
representante legítimo do poder do Estado, numa sociedade chafurdada na
violência e na criminalidade, já é, por si só, gerador de pressões.
Junte-se a isso, alguma outras
características de nossa
profissão, tais como o fato de, em frações de segundos, ter que decidir
se aperta ou não o gatilho de uma arma, assumindo as consequências
diversas dessa atitude; a vivência de uma relação hierárquica de poder,
muitas vezes conturbada e dissonante com o ideal; o ter que acompanhar
situações envolvendo estupros, mortes violentas, acidentes fatais,
visualizando cenas deprimentes ou participando de resgates de corpos
humanos, entre tantas outras atividades, que podem levar o cidadão
policial a sofrer os danos psicológicos dessas pressões.
Por vezes, temos
notícias trágicas de policiais que cometem suicídio ou que estão
passando transtornos diversos, desde sintomas de depressão, até
situações mais graves, onde há a necessidade de intervenções
psiquiátricas, uso contínuo de substâncias químicas e outros
tratamentos, chegando mesmo a internações compulsórias, em estados mais
avançados.
Embora não conheça
pesquisas que possam balizar com números estatísticos as afirmações aqui
elencadas, parece-nos que tem sido crescente o índice de policiais
acometidos das enfermidades da mente, e que, por falta de atenção e
estrutura de nossas Corporações, são meramente encaminhados para as
Juntas Médicas de Saúde, que, apenas avaliam e concedem o afastamento do
profissional, no entanto, sem nenhum acompanhamento, sem buscar o seu
histórico, a sua condição familiar… Afastado do serviço, muitas vezes os
sintomas da doença tendem a piorar, e o profissional que servia à
sociedade “mesmo com o risco da própria vida”, passa à situação de
“abandonado à própria sorte”.
É urgente pensarmos
neste assunto, se quisermos um policial mais preparado para enfrentar as
pressões e dilemas de uma profissão tão complexa como complexa é a
mente humana.
Além de apoiar e
acompanhar o policial que esteja acometido de qualquer enfermidade da
alma, é preciso que as Corporações contratem profissionais gabaritados
para uma consultoria e, após um levantamento minucioso das situações,
proponham ferramentas, debates, oficinas, que tenham por foco a
prevenção e a promoção da saúde mental de cada policial, a fim de que
possamos, parodiando o poeta, ter um policial são em uma Corporação sã.
FONTE:BLOG DO CABO JULIO
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